As Coisitas

Diário de bordo de Jowfish Kraken.
Terça-feira, 30 de outubro de 2012.

Imagem de uma professora de óculos e cabelo curto
apagando a lousa... provavelmente depois de uma aula
de matemática.
Tá, Capi. Então que coisitas são essas que você tanto fala?
Ahhh, mas se decide, Marujo!
Uéééé... Que foi?
Primeiro você fala que eu não falei... agora você fala que eu falo o tempo todo... se decide, vai!
Você não pode ser assim tão tonto, Capi!
O QUÊ?! REPETE ISSO NA MINHA CARA, MARUJO!!!
N....n....na....n...nada não!
Bom... então vamos lá!!!
AYE, CAPI!!!

.......................... qual o problema de me chamar de Capitão, hein?!
Ah, Capi... é que Capi é mais--
NÃO INTERESSA!!!
Continuando
................Grosso...........mal educado...
Como eu disse na conversa de ontem, o professor tem que ter na cabeça que umas coisas já estão BEEEEEM diferentes de quando a gente tava no lugar dos guris sugadores de alma do extremo agreste marciano.
Quem?!
Ah, você pode chamar do que quiser... Marujo, aluno, a diversão do trabalho, o terror da sua vida...
E como você chama os professores?
Você tá falando dos mulambentos carentes de atenção cobradores de impostos de diversão, amor e carinho?
.............Poxa...............
Você também pode chamar de o cara lá da frente, o masoquista, o deus do novo mundo...
Tá, tá, tá... Chama como você quiser... O que que mudou de quando o professor tava no lugar dos alunos pra agora?
Ahhhh, Marujo... MUITA coisa...
Tipo?
Bom... vamos do começo, certo?
Certo.
Hoje, a maioria ESMAGADORA de professores que estão aí dando aula é de que geração: Boomers, X ou Y?
Ãããã..... X?
Iiiisso. Muito bem.
Agora... Lembra quando eu disse daquela coisa que os Y não veem mais o professor como aquele que tem o conhecimento do universo?
Ãrrã.
Então. A coisa é que MUITOS... mas muitos professores M-E-S-M-O não aceitam isso.
Ué... por que, Capi?
Porque quando eles eram os alunos, eles tinham de respeitar o professor como sendo o dono do conhecimento.
Daí eles não querem perder esse posto, entende?
Hum...
Turma do Charlie Brown [ou Peanuts] sentados numa
fileira única na sala de aula característica da série.
É tipo... “Se eu tive de respeitar meus professores, vocês vão ser obrigados a me respeitar”
Ah, Capi... mas isso não devia ser o certo?
Bom... pensa assim, ó: se você acaba de conhecer uma pessoa e ela te manda ficar quieto toda vez que você abre a boca, ou briga contigo quando você se distrai do que ela tá falando...
Eu encho a cara dela de bulacha!
Então HAHAHAHAHAHAHAHAHAHA.... é a mesma coisa
O professor tem que ter na cabeça que ele, agora é um AMIGO do aluno, não um disciplinador.
Hum... tá, acho que entendi essa parte. Essa é uma das coisitas?
Talvez uma das principais.
E quais são as outras?
Depois de ter sacado isso, vem a parte de formar amizades, e isso é de cada um. Cada um faz amigos de um jeito diferente.
Mas todos têm de despertar nos guris as mesmas coisas.
AI, Capi! Que suspense! Que coisas?
Primeiro de tudo, você tem que conquistar a CONFIANÇA do pessoal.
Vixi, mas isso é difícil, Capi! Até alguém conseguir se tornar íntimo do aluno--
Opa! Não é íntimo, não!
Conquistar a confiança, que eu digo, é mostrar pra eles que você entende daquele assunto que tá passando, mas NÃO SABE DE TUDO!
Mostrar que, além de ensinar, você também pode APRENDER com os seus alunos.
Nossa, Capi! E como se faz isso?
São coisas muito simples e pequenas, na verdade. Quando alguém pergunta uma coisa que você não sabe, dizer: “Essa é uma boa pergunta. Vou pesquisar e te trago na próxima aula”, também--
Mas isso não ia fazer os alunos NÃO confiarem no professor?
De jeito nenhum.
Ou melhor... se você fizer isso MUITAS vezes, sim, porque vai mostrar que você não tá muito bom naquilo que tá ensinando.
MAS, se acontecer de vez em quando, vai mostrar pra eles que você NÃO quer enganar ninguém. E muito mais! Ainda vai mostrar que você REALMENTE pode aprender com eles e que você precisa deles tanto quanto eles precisam de você.
Um jovem conversando com um homem um pouco mais
velho... bem mais velho, na verdade. O garoto está
usando mochila e o homem, de cabelos grisalhos,
segura um lápis e uma pasta. Os dois estão se
olhando e rindo.
Hum... entendi... mas por que isso é tão importante?
Bom, isso nos leva pra segunda coisita: a motivação.
Hum.
Tem aluno que não tá nem aí pra nada? Tem.
Tem professor que não tá nem aí pra nada? Tem.
Tem professor que prefere achar que os alunos não tão nem aí pra nada? ISSO É O QUE MAIS TEM POR AÍ!!!
É muito mais fácil jogar a culpa no outro, né não?
Ai, Capi! Por que você tá falando isso?
Pelo seguinte: NINGUÉM é desinteressado em COISA NENHUMA!
E eu te provo!
Pega uma sala de aula de... vamos ver... sétima série.
Oitavo ano, Capi.
SÉTIMA SÉRIE!!! SE EU FALEI SÉTIMA SÉRIE, É PORQUE EU QUERO A SÉTIMA SÉRIE, NÃO O OITAVO ANO!!!
Nossa, Capi... que estresse, meu! Tomakí, ó... maracujá...
Bom, pega uma sala do OITAVO ANO... feliz?
Muito.
Pega uma turma do oitavo ano e faz uma aula bem básica sobre a teoria da relatividade.
PRO OITAVO ANO???
Isso.
Mas isso é impossível, Capi!!! Se nem--
DOBRE SUA LÍNGUA PRA FALAR DE IMPOSSÍVEL NESSE NAVIO, MARUJO!!!
Mas Capi--
NÃO É IMPOSSÍVEL!!!
Numa sala de aula COMUM, muito provavelmente os alunos vão perder o interesse em cinco minutos, no máximo.
Então, Capi!
MAAAAAAASSSSSS!!!! Se você pegar esse mesmo assunto explicado por um episódio do Beakman... eles vão assistir tudo e entender aquilo lá.
Ah, Capi. Mas aí já são coisas diferentes...
Calma, Marujo. Isso foi só pra exemplificar que a questão não é que o aluno não esteja desinteressado na MATÉRIA.
Ele está desinteressado na AULA.
Uma sala de aula, onde, em primeiro plano, temos
uma garotinha de blusa rosa erguendo a mão para
falar alguma coisa e, em segundo plano, a
professora, de blusa azul e saia branca, aponta para
a garota.
Ah, tá... entendi...
Pensa comigo: um professor já chega numa escola pública achando que ninguém quer nada com nada. Pra que ele vai se dar ao trabalho de planejar uma aula melhor?
Mas ele não--
Marujo, Marujo... eu já ouvi falarem isso na faculdade.
QUE ABSURDO!!!
Concordo plenamente.
Em professor que não ensina pra crescer, cresce a culpa do aluno.
Uma culpa que não existe.
Uma culpa da falta de confiança.
Mas Capi...
Fala.
Então... o aluno não é o culpado de nada disso?
O aluno é uma vítima de gerações anteriores, sim... mas ele também tem culpa.
Poxa, uma pessoa que está indo até ali, com eles, pra tentar ensinar alguma coisa pros guris... mesmo que seja o trabalho dela... merece pelo menos um pouquinho de respeito.
E todos eles recebem............ só que não sabem como manter isso.
E como a gente mantém isso?
Essa conversa já tá muito longa, Marujo. Eu respondo isso na próxima, tá?
Tudo bem.

baby Lee disse...

e então...? quero o resto da conversa!