Brincando de Errar

Diário de bordo de Jowfish Kraken.
Sexta-feira, 2 de novembro de 2012.
Mas Capi...
Então ter medo de errar é errado?
Erradíssimo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Nossa, Capi. Mas por quê?
Porque se você tem medo de errar, você não tenta; se você não tenta, não participa; se não participa, não se motiva; se não se motiva... você tá morto, cara.
Olôco, Capi. Que drama!
Não é drama, não, Marujo. Pensa comigo, ó: a gente tá CANSADÍSSIMO de ouvir o povo falando “AAAAIIIII, CREDO!!! NUNCA TEM NADA DE NOVO NISSO!!!” ou “É impossível a gente criar alguma coisa original hoje em dia” e blablabla...
Mas não é, Capi?
É ÓBVIO QUE NÃO!!!

Mas vai continuar sendo assim enquanto os mais velhos passarem seus limites pros mais jovens.
Limites?
Imagem com vários hominhos de mãos dadas - como
aqueles feitos com papel - ao redor de uma lâmpada.
É, por exemplo: se eu tento fazer uma coisa e não consigo, vou te dizer que é impossível e que não adianta você tentar que também não vai conseguir.
Isso tira totalmente a motivação da coisa e da pessoa.
... Acho que entendi... mas o que isso tem a ver com a escola?
Vamos lá.
Nós temos dois tipos de alunos: os PARTICIPANTES e os RECLUSOS.
Os participantes são aqueles que falam, riem, respondem, brincam e gritam na sala, e os reclusos são os que não fazem nada disso, ou, quando fazem, são extremamente discretos.
Tá.
Daí, temos o seguinte: o aluno que participa APENAS falando quando o professor pergunta é o “bom participante”, e os que falam fora desse tempo, são os “maus participantes”.
Já vi que você não concorda com isso, né, Capi?
De jeito nenhum.
Só que eu vou deixar pra me aprofundar nessa coisa de como começou esse medo do erro e tals pra outra sequencia, tá?
Tá bom, então.
Então vamos lá.
Esse “mau participante” é mau, porque não soube se controlar na sala de aula, ou porque sempre responde errado às perguntas do professor, ou até mesmo porque “quer se mostrar” pros colegas.
Tá.
Mas esse mesmo aluno, se colocado em uma outra roda de ensino, ele seria um dos melhores alunos da sala.
Olôco, Capi. Como assim?
Fazendo brincadeiras, ou jogos com eles, dá pra fazer com que em menos de um ano, eles percam o medo de participar das aulas. Errando ou acertando.
Sério, Capi? E como, isso?
Bom, vou continuar no exemplo do que eu fiz, certo?
Certo.
Fiz o seguinte: perguntei pra eles sobre o que eles queriam conversar e espalhei na lousa os temas que eles proporam, por exemplo: drogas, dragão, violência, terror, sexo, suspense, bullying, comédia, eletricidade, sobrenatural, aborto...
Desenho de um homem sentado em uma poltrona,
enquanto uma mão GIGANTESCA surge do canto
direito, apontando para cara dele.
Nossa, Capi!
Mas você dava aula do quê?
HÁ... se nem ELES sabem até hoje do que era a aula... cê A-C-H-A que eu vou falar?
Ai, Capi! Como você é chato!!! Fala, vai...
Isso não é importante. Continuando.
Aff...
Daí eu fazia um debate sobre um dos temas que eles escolhiam.
Eu fazia uma pergunta... daí eles respondiam.
No começo, quase ninguém respondia, porque tinham medo de errar... até que eu comecei a dar umas erradas de propósito.
Propósito, arrã... sei...
Vamos supor que a gente estivesse falando de drogas, daí eu fazia assim: eu falava que a cocaína era fumada. Daí alguns alunos se olhavam... daí eu falava: “não é fumada, não?” daí um deles respondia que não. “Então cocaína é o quê?”, e eles respondiam “cheirada”.
Ah. HAHAHAHAHA... Entendi.
Daí eles iam começando a participar mais... e vendo que eu, que sou o professor, também erro, eles podiam errar também.
E tentavam... e erravam... e acertavam.
E ninguém zoava ninguém?
Zoava. Ôxe, zoava bastante.
E aí?
Daí eu zoava quem tava zoando... e quem tava sendo zoado zoava também... daí às vezes tinha bate-boca, mas ficava tudo bem.
Que mais?
Quando era assunto mais polêmico, tipo aborto, eu fazia um pouco diferente...
Como você fazia, Capi?
Eu fazia dois grupos, quem era a favor e quem era contra.
Êêê, barraqueiro...
Em nenhum deles deu briga, ô! Tá tirando?
Como não?
É porque esse tipo de coisa eu fiz um pouco mais pra frente, quando todo mundo já tava participando sem medo. E eu disse: “SE DER BRIGA EU SENTO A MÃO NA LATA DO ENGRAÇADINHO!!!”
He... brincadeira.
Foto de meio corpo de Thomas Edison,
com roupa bonita, social e tals... um meio
sorriso no rosto, e as mãos nos bolsos da
calça. Está em preto e branco.
Eu disse que se tivesse briga, a gente parava, porque a intenção da coisa não era fazer o outro acreditar no que a gente acredita, mas mostrar pra ele a nossa visão da coisa.
Daí foi bem tranquilo a coisa.
Entendi.
Mas até o do sexo foi assim?
Sabia que tu ia perguntar. Esse foi o tema mais de boa, na verdade.
Sério mesmo?
Sério mesmo.
Como sempre, os garotos tavam LOUCOS pra ter essa conversa, mas as meninas tinham vergonha de ser zoadas pelos garotos.
Então eu fui fazendo os outros temas... daí foi todo mundo participando... todo mundo brincando com todo mundo... e sabendo levar a brincadeira de boa... e SÓ DAÍ eu fiz sobre sexo, mas eu fui bem claro: se começasse a ter zombaria com as meninas, a conversa acabava NA HORA!
Foi a conversa mais de boa do mundo.
Mas você fez isso com criança, Capi?
Eu fiz isso com um pessoal da oitava série... eles tinham 13, 14, 15 e 16 anos.
Nono ano? Poxa... achei que tinha sida pro quinto ano, hihi.
Não, não.
Tá, mas no que isso ajuda na pessoa, Capi?
Tudo, oras bolas!
A pessoa vai crescer sabendo que ela não precisa ter medo de errar, aliás, dependendo de COMO você fizer isso, ele vai crescer sabendo que ele pode até errar 243 mil vezes, mas quando acertar, ele vai ter feito uma coisa que ninguém antes dele foi capaz de fazer.
Nossa, Capi!
Quando disseram pra Thomas Edison parar, ele disse:
“Amigo, eu acabei de descobrir 1000 maneiras de como não fazer uma lâmpada funcionar.”
E é exatamente esse o pensamento que deveria estar sendo passado.
O erro não é uma falha, Marujo.
Ele é o caminho da sua força.

Lee - a reclusa. disse...

ótimo! boa explanação!

Unknown disse...

O pior é que eu levei um tempo pra entender o porquê de "a reclusa"...

ASUIHASUIHAHSHUIASHUUAISHUAHSIHAHSIUHASUHUASHHASHAISHAUSHUAHSIUHAUSHIAS

Ai, que lerdinho que eu sou, né.... '^.^'

Angélica disse...

Eu já saí faz tempo da escola, mas adorei o texto, capi! Vou anotar a última frase no meu caderninho de inspirações, huehuahue (eu também era "reclusa", btw, xD).

Victor S. Gomez disse...

Quando você errar, não pergunte "por quê eu errei?" e sim "para que?". Aprender com seus erros é a melhor maneira de descobrir novos caminhos.
Belo texto. Abraços