Alvo: Crianças

Diário de Bordo de Jowfish Kraken.
Sábado, 21 de abril de 2012.
Chico Bento, feliz, tocando sanfona e dançando.
Então quer dizer que tem um jeito errado de contar histórias pra crianças, Capi?
Já falei que certo e errado não existe, fi di Deus!!!
Mas tu pode falar que existe um jeito mais fácil e um mais difícil de se alcançar a garotada.
E como seria isso?
As crianças ainda estão na fase de acostumação de vocabulário, não é?
Depende. Criança de que idade?
Criança vai do 1 aos 12 anos.
[Pausa]
Eu acho que é até os 14, que é mais ou menos a idade que o pessoal acaba a oitava série nono ano.
[Ok, póvoltá]
Uhum.

Então. Se elas estão nessa fase, então nada mais justo de que os livros voltados pra eles sejam escritos com as palavras certas... por exemplo:
Seria escrito “Me dê essa pedra para eu tacar no rio” ao invés de “Dáki essa pedraí pra mim tacá no rio”.
Minha sua nossa senhora do perpétuo socorro esquecido!!! Acho que nem eu ia entender isso daí.
Mas...
Diga, cumpadi.
Mas eu podia jurar que já vi nesses livros as pessoas falando erra--CORTADO! CORTADO! Eu disse cortado!!!
Tá bom, continua.
Chaves, em seu característico gesto para o "isso,
isso, isso, isso".
Então, eu já vi em livro infantil, os personagens falando palavras do jeito que a gente fala, não do jeito completo e tals.
A, sim. Mas aí é outra história. Narrador e personagem são coisas diferentes... mais tarde eu falo mais deles.
Certo.
Mas que nem, pode ver que todos os narradores usam a forma culta da língua.
Sim. Por quê?
Porque o narrador está ali contando uma história. Ele tá ali pra ensinar alguma coisa pros calaguinho.
Hum... E os personagens?
Os personagens são os que ligam o leitor à história. Daí, por exemplo, se a criança não fala tudo certinho, se troca letras e tudo o mais...
Então os personagens vão fazer isso também!!! Entendi!!! É tipo o Cebolinha, da Turma da Mônica.
O Chico Bento também.
Isso, isso, isso!
Exatamente, o Chaves também é um bom exemplo.
Entendi... Então é só colocar isso que a coisa fica boa?
De jeito nenhum.
Cebolinha, criança, de braços abertos e sorrindo.
Ué... então...?
Você tem que amarrar a criança na sua história, cumadi.
E como faz isso?
Primeiro: toda criança gosta de rir.
Todo MUNDO gosta, na verdade, né?
Esse é um tema que une todas as idades.
Mas, hoje, os pequetuchos estão começando a se aproximar do suspense.
Não sabia que elas gostavam de terror.
SUSPENSE NÃO É TERROR!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Como não?
Outro assunto. Outra conversa.
Tá, tá. Continua.
Então, daí o pessoal costuma juntar as duas coisas. Colocar seres do suspense em histórias de humor, por exemplo. Um vampiro que perdeu o dente, um monstro que não dá medo...
Hum...
Mas também tem livro com histórias de terror, como Charadas Macabras, da Angela Lago.
Mas então pode ser de tudo?!
Mas é o que eu tô falando desde o começo!!!!
Mas você disse que...
A questão é a seguinte: nessa idade, a criança tá no processo de interação com o mundo, então a gente tem que fazer com ela se sinta fazendo parte daquilo lá.
Tipo numa conversa?
Pode ser. Já é uma estratégia.
Se você fizer com que ela se sinta parte daquilo e que ela se encante com isso...
Como assim “se encantar”?
Que nem quando é a primeira vez que você vê alguma coisa, ou quando você já viu algo parecido, mas ele foi reinventado e tudo o mais... ou feito de um jeito bem melhor...
Ah... entendi.
Então, se você conseguir fazer isso com eles, pode ter certeza que você, além de ter conquistado um leitor perpétuo... também acabou de criar um.
Ai, Capi... que bonito isso.
É... acordei meio filósofo hoje...